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quarta-feira, 29 de outubro de 2025

 

Tripla crise planetária já afeta todos os oceanos do mundo

No Brasil, águas costeiras aquecem acima da média global; confira os destaques do relatório global ‘Estado do Oceano’

Foto: Naja Bertolt Jensen | Unsplash

Nenhuma região do oceano global está imune aos impactos combinados da mudança climática, perda de biodiversidade marinha e poluição. Essa é a conclusão da 9ª edição do Copernicus Ocean State Report (OSR), divulgada na última terça-feira (30) pelo Serviço Marinho Copernicus da União Europeia.

O relatório, uma das principais referências científicas globais sobre o estado dos oceanos, alerta que a tripla crise planetária afeta 100% das regiões oceânicas, incluindo o Atlântico Sul e a costa brasileira.

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Foto: Ken Findlay

O oceano, responsável por absorver aproximadamente 90% do calor excedente gerado pelas emissões de gases de efeito estufa, está se aquecendo em ritmo acelerado. Esse aquecimento tem impactos diretos sobre ecossistemas marinhos, cadeias alimentares, pesca, aquicultura, comunidades costeiras e até a própria estabilidade climática do planeta. De acordo com Pierre Bahurel, diretor-geral da Mercator Ocean International, “estamos perigosamente próximos de ultrapassar os limites planetários”, com todas as partes do oceano sendo afetadas simultaneamente.

Aquecimento oceânico e ondas de calor 

Desde a década de 1960, os oceanos vêm aquecendo progressivamente, mas nos últimos anos esse processo se intensificou. Em 2024, a temperatura média da superfície do mar atingiu 21 °C, a mais alta já registrada. Embora a variação pareça pequena, os efeitos são devastadores para a vida marinha e o equilíbrio do sistema climático global. Entre 2023 e 2024, ondas de calor oceânicas ultrapassaram os recordes históricos de 2015 e 2016 em 0,25 °C.

Em algumas regiões, como o Atlântico Tropical Norte, o calor extremo persistiu por mais de 300 dias consecutivos, especialmente nas ilhas do Caribe. Entre Colômbia e Brasil, foram mais de 180 dias, ou seis meses, de temperaturas anormalmente elevadas. Os efeitos já são visíveis: colapso de estoques pesqueiros, desaparecimento de espécies e perdas socioeconômicas significativas para comunidades costeiras.

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Foto: Andrey Nosik

No Mediterrâneo, o aumento da temperatura chegou a 4,3 °C acima da média, favorecendo a proliferação de espécies invasoras e dizimando cultivos tradicionais, como as amêijoas no delta do rio Pó, na Itália.

Brasil: alta vulnerabilidade e poluição plástica

A situação do Brasil merece destaque no relatório. A costa atlântica brasileira tem apresentado aquecimento acima da média global, o que intensifica os riscos para a biodiversidade e para a segurança alimentar de milhões de brasileiros que dependem da pesca e da aquicultura. Além disso, o país é apontado como o maior emissor de plástico para o oceano entre os países das Américas, agravando a crise da poluição marinha no Atlântico Sul.

A cientista Karina von Schuckmann, presidente da iniciativa e coautora do relatório, reforça que a compreensão científica é essencial para embasar decisões públicas eficazes. “O oceano está mudando rapidamente. Sabemos o porquê e conhecemos os impactos. Esse conhecimento é um plano de ação para restaurar o equilíbrio entre humanidade e natureza”, afirma.

Biodiversidade e acidificação 

O relatório também alerta para a acidificação acelerada das águas, especialmente em regiões com alta biodiversidade. A combinação entre aumento da temperatura, maior acidez e poluição por plásticos está comprometendo a sobrevivência de espécies já vulneráveis, como corais, moluscos e pequenos organismos marinhos que sustentam a base da cadeia alimentar.

Vida selvagem
Branqueamento de corais no sul da Grande Barreira de Corais, 2024. | Foto: theundertow.ocean & @diversforclimate

Os recifes de corais, por exemplo, estão entre os ecossistemas mais afetados. Cerca de 75% dos países que mais poluem o oceano com plástico – mais de 10 mil toneladas por ano – possuem recifes em situação crítica, segundo os dados do OSR. Além disso, está em curso uma migração silenciosa, mas profunda: espécies como o micronekton (pequenos organismos marinhos que servem de alimento para peixes maiores) estão se deslocando em direção aos polos, transformando os ecossistemas marinhos de maneira estrutural.

Poluição plástica global

resíduos plásticos formam um corredor de poluição no meio do oceano e família Schurmann registra
Foto: Voz dos Oceanos

Os resíduos plásticos oriundos de todos os continentes já foram detectados em todas as bacias oceânicas do planeta. Na América Latina, o Brasil ocupa uma posição preocupante como principal emissor de plástico para o oceano, com consequências diretas para os corais da costa leste sul-americana e do Caribe. No Pacífico, áreas altamente produtivas encolheram mais de 25% desde 1998, afetando algumas das pescarias mais ricas do mundo e colocando em risco a segurança alimentar de milhões de pessoas.

Degelo polar e aumento do nível do mar

Outro ponto crítico apontado pelo relatório é o derretimento acelerado das calotas polares. No Ártico, entre dezembro de 2024 e março de 2025, foram registrados quatro recordes consecutivos de perda de gelo marinho. Em março, a área total de gelo estava 1,94 milhão de km² abaixo da média histórica, o equivalente a seis vezes o território da Polônia.

rochas degelo
Rochas com metais pesados são expostas pelo degelo e contaminam a água da região de Huaraz, no Peru. Foto: Reprodução YouTube | Germanwatch

Na Antártida, o cenário também é grave. Fevereiro de 2025 marcou o terceiro ano consecutivo de retração significativa da calota de gelo, com perda acumulada correspondente a quase três vezes o território da França. 

Desde 1901, o nível médio do mar subiu 228 mm, e a tendência é de aceleração. Apenas na Europa, 200 milhões de pessoas vivem em áreas costeiras, e sítios históricos tombados pela Unesco enfrentam risco crescente de inundações nas próximas décadas.

Barômetro Estrela-do-mar

Durante o Dia Mundial dos Oceanos de 2025, na Conferência das Nações Unidas sobre Oceanos (UNOC3), foi lançado o Barômetro Estrela-do-mar: um novo indicador que complementa os dados do Ocean State Report. A partir de agora, o barômetro será publicado anualmente como parte oficial do relatório, reforçando seu papel como referência científica confiável para orientar políticas públicas e ações globais de conservação marinha.

O que é o Copernicus Ocean State Report?

Copernicus Ocean State Report (OSR) é uma publicação científica anual do Serviço Marinho Copernicus, produzida por mais de 150 especialistas internacionais e publicada no periódico State of the Planet, após revisão independente por pares. O relatório integra dados de satélite, modelagem computacional e medições in situ para oferecer uma visão abrangente do estado atual e das tendências futuras dos oceanos tanto em escala regional europeia quanto em escala global.

A publicação atua como base de evidências para a formulação de políticas ambientais, decisões econômicas no setor da chamada economia azul, e como fonte confiável de informação para a comunidade científica e o público em geral.

 

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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

 

Tinta inovadora ajuda a resfriar casas naturalmente

Tinta com tecnologia desenvolvida em Cingapura imita a transpiração humana para reduzir o calor sem uso de energia elétrica


Foto: Divulgação | Universidade Tecnológica de Nanyang

Cientistas da Universidade Tecnológica de Nanyang desenvolveram uma tinta inovadora à base de cimento que simula o mecanismo natural de resfriamento da pele humana: a transpiração. Ao contrário das tintas comerciais de resfriamento, que costumam repelir a água para proteger as estruturas, essa nova formulação armazena água em uma estrutura porosa e a libera lentamente, promovendo a evaporação e dissipando calor.

Segundo o cientista de materiais Li Hong, a base da inovação está no resfriamento passivo” — ou seja, o sistema opera sem depender de energia elétrica ou mecanismos externos. Enquanto outras tintas utilizam principalmente o resfriamento radiativo, refletindo a luz solar e emitindo calor de volta para o céu, essa estratégia se torna ineficaz em regiões úmidas, onde a alta umidade impede a dissipação eficiente do calor.

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Cingapura. Foto: Pixabay

Tecnologia de três frentes

A solução? Criatividade científica. A nova tinta combina três mecanismos de resfriamento passivo: evaporação, radiação e reflexão solar. Ela reflete entre 88% e 92% da luz solar, mesmo quando molhada, e emite até 95% do calor que absorve. Para otimizar a performance, os pesquisadores adicionaram nanopartículas para aumentar a resistência, além de polímeros e sal, que ajudam a manter a umidade e prevenir rachaduras.

Após dois anos de testes em três mini casas em Cingapura, os resultados foram claros. Uma das casas foi pintada com tinta branca comum, outra com uma tinta refrescante convencional e a terceira com a fórmula experimental. Enquanto as duas primeiras desbotaram para o amarelo sob o sol tropical, a nova tinta se manteve intacta. “Nossa tinta ainda estava branca”, destacou o coautor Jipeng Fei. E essa brancura é fundamental, pois garante eficiência contínua no resfriamento.

Eficiência energética e adaptação climática

Os testes também mostraram que a nova tinta pode reduzir entre 30% e 40% o uso de ar-condicionado nas casas onde foi aplicada. “Cerca de 60% da energia usada em edifícios vai para o resfriamento dos ambientes”, observa o coautor See Wee Koh. Com uso em larga escala, a inovação poderia diminuir significativamente a demanda por eletricidade, tornando os espaços internos mais confortáveis com menor dependência de sistemas de climatização intensivos em energia.

As aplicações vão além do uso doméstico. Diversas cidades ao redor do mundo enfrentam o chamado efeito de ilha de calor urbana, onde grandes concentrações de concreto absorvem e retêm calor. O uso de ar-condicionado, apesar de eficaz em ambientes internos, agrava o problema ao liberar ar quente nas ruas e bairros. Já essa nova tinta atua de maneira diferente, emitindo calor na forma de radiação infravermelha invisível, que se dissipa na atmosfera sem aquecer o entorno imediato.

“Cingapura sofre com uma ilha de calor urbana muito severa”, afirma Koh, mencionando também regiões como o Oriente Médio que enfrentam desafios semelhantes. Diante do avanço das mudanças climáticas e das temperaturas cada vez mais extremas, tecnologias como essa oferecem soluções passivas e sustentáveis para manter os ambientes mais frescos e o planeta mais habitável.

terça-feira, 26 de agosto de 2025

 

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