Como seres humanos, evoluímos ao longo dos últimos duzentos mil anos em
um ambiente linear e local.
Como ilustra Peter Diamandis, a
única coisa que afetava um ser humano das planícies da África era o que estava
por vir em um dia de caminhada e de caça. Se algo estivesse acontecendo no
outro lado do planeta, ninguém saberia.
A vida também foi linear para nossos bisavós, avós e pais.
Hoje, vivemos em um mundo que é exponencial e global.
Se algo acontece na China ou na Síria, isso afeta você no Brasil,
literalmente minutos depois, seja nos preços das ações, notícias, temores, o
que for.
Hoje, você encontra um computador quatro vezes mais rápido pelo mesmo
preço cobrado um ano atrás.
Vivemos em tempos empolgantes, mas turbulentos, onde a única coisa que sabemos ao certo é que as coisas estão
mudando mais rápido a cada dia.
Duas forças
Há duas forças que estão causando esse ritmo acelerado de mudanças.
Elas se encaixam em dois grupos:
– Tecnologias exponenciais: são tecnologias que
dobram de poder a cada 12 a 24 meses: computadores, inteligência artificial,
robótica, impressão 3D, biologia sintética, medicina digital. Essas
tecnologias estão transformando todas as indústrias que conhecemos.
– Ferramentas de comunidades e crowdsourcing: concursos,
coleta de dados, comunidades ‘faça você mesmo’, financiamento coletivo,
criatividade coletiva.
Um exemplo clássico de tecnologia exponencial é expresso pela lei de Moore, que em termos gerais mostra que a
quantidade de transistores nos circuitos integrados dobra aproximadamente
a cada 18 meses com o mesmo custo de produção.
A “Lei de Moore“ prevê que a cada ciclo de 18 a 24 meses, a
capacidade de processamento dos computadores dobra, enquanto os custos
permanecem constantes. A teoria foi publicada pela primeira vez em 1965 na
Electronic Magazine pelo engenheiro Gordon Moore, 3 anos antes de se
tornar um dos fundadores da Intel.
Empresas como a Kodak não viram
a tecnologia exponencial se aproximando e colocando-as para fora do mercado.
Prevê-se que nos próximos 10 anos, 40% das empresas Fortune 500 não existirão mais.
E isso realmente pode causar um estresse porque nós seres humanos
pensamos de forma linear. Mas, o mundo está mudando exponencialmente.
O pensamento exponencial
Há uma diferença entre a nossa capacidade de projetar algo de forma
linear e exponencial.
Novamente Peter Diamandis nos dá um
exemplo fácil de entender: se você anda 30 passos lineares, seria 1, 2, 3, 4,
5…. Com 30 passos largos e lineares talvez caminhe 30 metros. Mas, se você der
30 passos exponenciais, 1, 2, 4, 8, 16, 32… qual distância teria percorrido?
Teria percorrido um bilhão de metros, ou dado 26 vezes a volta ao redor
do planeta.
Mas, como você pode criar um mindset exponencial
num mundo que está se transformando para o digital?
Fomos buscar saber o que pensa Mark Bonchek. Ele é
CEO da Shift Thinking e seu trabalho é ajudar empresas e gestores a
atualizarem seu pensamento para a era digital.
Os modelos de negócios digitais
No século passado, os modelos de negócios (industriais) eram definidos
pelo uso das máquinas para criar retornos crescentes de escala.
Hoje, os modelos de negócios digitais usam efeitos de rede para criar o
que Ray Kurzweil descreve como acelerar rendimentos de escala.
Não é a tecnologia digital que define os modelos de negócios digitais; e sim, a sua capacidade de criar valor exponencial.
Isso quer dizer que, por exemplo, as indústrias da música e do vídeo não
foram redefinidas com a conversão do analógico para formatos digitais. Para
criar valor exponencial, é imperativo criar primeiro uma mentalidade
exponencial.
Para Bonchek, enquanto o pensamento
incremental se concentra em fazer algo melhor, o
exponencial busca 10 vezes mais.
A mentalidade exponencial pode gerar novas formas de pensar sobre marketing, cultura e estratégia. Na verdade, a maior
parte do progresso acontece uma vez que a curva começa a dobrar, como você pode
ver no gráfico logo abaixo.
Só que há um problema: ele constata que a mentalidade incremental está
mais profundamente enraizada em nós do que pensamos.
Essas duas mentalidades variam em cada fase da jornada de um negócio: lançamento, construção e crescimento.
(Crédito: Harvard Business Review – HBR)
Lançamento: Visão e Incerteza
Na fase do lançamento de um negócio, a equipe está focada em desenvolver
e aperfeiçoar o seu modelo. Pivotamento, testes, interações são feitos. Mas,
segundo Bonchek, nessa fase, você já precisa saber se pensa de
forma incremental ou exponencial.
Se você estiver desenhando uma linha reta partindo do presente para o
futuro, você tem um mindset incremental. Mas, como
assim?
Você tem um bom plano de negócios “incremental” que
lhe dá uma visão de como chegar desse ponto (presente) até lá (futuro).
Acontece que os modelos exponenciais não são linhas retas. Eles são como
uma curva na estrada que impede você de ver o que vem mais na frente.
Bonchek cita três exemplos de mindset exponencial e suas escalas de
transformação:
– Se o Google não tivesse tido uma
mentalidade exponencial, jamais teria criado uma visão tão ambiciosa de como
“organizar toda a informação que existe no mundo”.
– O Facebook nunca teria tido a
ousadia de “tornar o mundo mais aberto e conectado”
– E o Airbnb jamais teria “criado
uma disruptura na hotelaria, conectando pessoas ao redor do mundo”.
Na fase de lançamento, reforça Bonckek, é preciso
entender que uma estratégia exponencial tem a incerteza
como algo inerente.
Não há como saber o que virá no outro lado da curva. Não é possível
desenhar uma linha reta. Não há um plano passo-a-passo.
É essa mentalidade exponencial que ajuda você a tornar-se confortável
com a incerteza e ter mais ambição com a sua visão.
Construção: coragem e paciência
Existem muitas empresas que foram capazes de atravessar a fase de
lançamento com uma mentalidade exponencial. Elas conseguiram gerenciar a sua
incerteza e começaram a sua jornada, apesar de não visualizarem o que vinha
depois da curva.
Para Bonchek, o que pode ser um poderoso
fator de motivação é o temor às disrupturas. Porém, nessa segunda fase, ele
alerta que a coisa pode desandar.
Dê uma olhada novamente no gráfico acima. Na primeira parte – fase da
construção – não vemos muita mudança, até chegarmos à segunda parte, quando a
linha começa a dobrar.Isso é simplesmente a natureza da mudança
exponencial se manifestando.
As coisas acontecem muito lentamente antes que elas
aconteçam muito rapidamente.
No entanto, o problema para Bonchek é
que fomos criados com uma mentalidade incremental.
Como Peter Diamandis fala (veja
acima), somos acostumados a medir o progresso incremental (linear). Se 30% do
tempo passou, assumimos que devemos ter caminhado 30%. É assim que as coisas
funcionam no mundo físico quando seguimos para um determinado destino. No
entanto, os modelos exponenciais não funcionam dessa maneira.
As empresas incorrem em algo que Bonchek chama
de “gap das expectativas“, onde a estratégia
exponencial é o maior risco da mentalidade incremental. É lá onde muitas
empresas abandonam o modelo exponencial de volta para o incremental.
Em sua jornada exponencial, preste atenção quando as pessoas ficarem
impacientes por resultados. É o ponto no gráfico onde há a
maior diferença entre as trajetórias incrementais e exponenciais.
Este “gap de expectativas” representa um risco para a estratégia de
negócio, porque a impaciência pode ser usada por adversários ou céticos para
convencer você e os demais stakeholders a
“abandonarem” a mentalidade exponencial para a incremental.
É inegável o alívio imediato que você poderá ter ao ver “o horizonte”
novamente e constatar o progresso contínuo (constante) das coisas. Em contrapartida, você também terá desistido da possibilidade de
acelerar os seus retornos.
É a mentalidade exponencial que ajuda você a ter a coragem de perseverar
e a paciência para prosseguir.
Crescer: Agilidade e Controle
Na terceira fase, você conseguiu gerenciar a incerteza da fase inicial,
a impaciência da fase intermediária, e agora segue firme “na curva”.
O crescimento nessa fase acontece mais rápido do que você podia esperar.
Neste ponto, a mentalidade incremental tenta manter as coisas sob controle, o
que é um erro:
Para dar uma base sustentável aos retornos da
aceleração, é preciso mudar a mentalidade sobre como mobilizar e gerenciar os
recursos.
Isso significa que a mentalidade incremental costuma assumir que é
preciso mais “inputs” para produzir mais “outputs”.
À medida que o crescimento começa a acelerar, as equipes começam a procurar
mais recursos na proporção do crescimento.
Só que colocar no processo mais pessoas ou recursos em excesso pode
“inundar o motor” do crescimento.
É aí que você precisa de uma mentalidade exponencial para descobrir como 1X de input adicional pode criar 10X de output adicional.
A aplicação dessa mentalidade exponencial ajuda
você a gerenciar os recursos que já tem.
Já a gestão pela mentalidade incremental cria uma fila de dominós. Tudo
precisa estar altamente coordenado e supervisionado para sua empresa progredir
um passo de cada vez.
Bonchek acredita
que há uma maneira de seguir a jornada sem perder o controle: na mentalidade exponencial, os
gestores substituem o controle de pessoas pelo controle de princípios.
Isso ajuda a orientar a tomada de decisão, cria alinhamento,
consistência e capacitação.
A mentalidade exponencial ajuda a crescer o “output” mais rápido
do que o “input”, e capacita as equipes a alcançarem tanto o alinhamento quanto
a autonomia.
Mas, a maioria dos líderes está acostumada a tomar decisões em
vez de capacitar decisões.
A
ansiedade pela perda do controle pode facilmente tirar as empresas da sua
trajetória exponencial de volta para o caminho incremental.
Resumindo…
No
início, é preciso visão e um “salto de confiança
(fé)” para se
comprometer com o desconhecido.
É
preciso coragem e paciência para construir a base para o
crescimento, mesmo quando os resultados ainda não são tão aparentes.
Quando
chega a fase do crescimento, é preciso agilidade para capacitar equipes e prosseguir a
trajetória sem perder o controle.
Em
todas as fases, o desafio é abraçar o desconhecido e “desaprender” as formas
familiares de pensar. Apenas com uma mudança da
mentalidade incremental para a exponencial vem a oportunidade para a verdadeira
inovação.
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