Extraído do site da Revista Exame.com
Corrente sanguínea:
para que o câncer se espalhe, as células do tumor precisam entrar e sair da
corrente sanguínea de um jeito rápido e eficiente
O câncer por si só já é uma doença assustadora. E a
metástase é a sua face mais perigosa - quando um câncer primário cai na
corrente sanguínea, pode se espalhar rapidamente por qualquer parte do corpo e
se tornar uma ameaça mortal.
Agora, um grupo de pesquisadores alemães acredita ter encontrado o
segredo do mecanismo de migração do câncer - que também pode conter a chave
para impedir que ela aconteça.
A metástase começa quando algumas células individuais se separam do
tumor principal e entram no sistema circulatório. Dali, elas viajam livremente
para qualquer parte do corpo, mas também estão mais vulneráveis ao sistema
imunológico.
Por isso, para que o câncer se espalhe, as células do tumor precisam
entrar e sair da corrente sanguínea de um jeito rápido e eficiente.
Cientistas do Instituto Max Planck e da Universidade
Goethe descobriram a estratégia que os tumores mochileiros usam para
fugir dos vasos sanguíneos. Eles precisam atravessar a barreira do endotélio,
que "forra" o interior dos vasos.
Para isso, eles tiram proveito de um mecanismo natural das células e
direcionam o ataque a uma molécula especial, chamada de "Receptor da Morte
6".
As nossas células já são programadas para "suicídios
coletivos" - e isso é totalmente normal. Quando sofrem danos no DNA,
infecções de vírus ou se tornam obsoletas, elas simplesmente morrem.
Podem fazer isso de um jeitinho organizado e silencioso, chamado de
apoptose, ou mais escandaloso, chamado de necroptose, que causa uma resposta
inflamatória no corpo.
Algumas moléculas são chamadas de Receptores da Morte porque são elas
que recebem o sinal de suicídio programado do corpo.
O que os cientistas observaram em laboratório é que os tumores ativam o
Receptor da Morte 6 fora de hora, mas ele faz o seu trabalho mesmo assim: leva
à necroptose, um dos tipos de autodestruição das células nos arredores.
E aí a barreira endotelial fica fraca e vulnerável à passagem das
células cancerosas para outros órgãos do corpo. O câncer usa essa brecha para
se espalhar, concluíram os alemães.
Descobrir um dos "meios de transporte" da metástase já seria
um avanço e tanto, mas os pesquisadores também tentaram impedir a movimentação
do tumor.
Para isso, eles desabilitaram o
Receptor da Morte 6 em ratinhos geneticamente modificados. Deu
certo: os animais apresentaram menos necroptose e menos metástase.
Os resultados são extremamente promissores para a batalha contra o
câncer. Mas ainda estamos longe de bloquear totalmente a metástase.
Primeiro, os pesquisadores precisam ter certeza que desabilitar o RM6
não vai trazer outros problemas para o corpo. Depois, precisam confirmar se os
resultados vistos em ratos se repetem em células humanas.
Por último (e mais importante): o câncer é uma doença inteligente - ele
se desenvolve e se espalha de formas terrivelmente complexas.
Mal chegamos perto de entender como funciona a metástase na corrente
sanguínea e já aparecem sinais de que os tumores podem se espalhar sem usar o sistema circulatório.
Ou seja: uma solução só não vai resolver todos os casos, mas pode
aumentar as chances de sobrevivência de muita gente.
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