Com informações da Agência Brasil
Detalhe da usina, mostrando a etapa de pós-digestor e o gasômetro.[Imagem: CS Bioenergia/Divulgação]
Energia do esgoto
Pela primeira vez, uma usina produzirá energia no Brasil a partir da combinação entre resíduos orgânicos e lodo de esgoto.
A CS Bioenergia, formada pela estatal Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) e pelo grupo Cattalini Bio Energia, recebeu Licença de Operação do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) para geração de biogás. A expectativa é que a operação estimule a adoção da tecnologia em outros estados.
O processo, conhecido como biodigestão, começa com o recebimento do lodo de esgoto da estação de tratamento e seu armazenamento em um tanque. Paralelamente, também são recebidos resíduos sólidos urbanos. Estes passam por um mecanismo de separação, retirando, por exemplo, os plásticos. Depois, a fração orgânica é limpa. Só então o material é enviado ao tanque de biodigestão, onde vai ser adicionado ao lodo.
Sérgio Vidoto, diretor da Cattalini Bio Energia, explica que o lodo de esgoto no Brasil contém muitas bactérias. Um problema que, na usina, vira solução. Isto porque as bactérias se alimentam do material orgânico, produzindo um gás com grande participação de metano. "Essa é a combinação perfeita para gerar o biogás de excelente qualidade", disse Vidoto.
A usina gerará 2,8 megawatts de energia elétrica, o suficiente para abastecer duas mil residências populares, conforme a CS Bionergia. Para que o biogás passe a integrar a rede de energia do Paraná, ainda falta a autorização da Companhia Paranaense de Energia (Copel), o que deverá ocorrer em cerca de sessenta dias.
Alternativa aos aterros
Ao todo, 1.000 metros cúbicos de lodo de esgoto e 300 toneladas de resíduos orgânicos, que eram descartados diariamente no meio ambiente, serão aproveitados na usina. Além do biogás, com o que sobra dos resíduos orgânicos serão produzidos biofertilizantes. Já o plástico que chega à indústria junto com o lixo será reciclado para a produção de sacolas.
A inspiração para a mudança nessa cultura veio de países como a Áustria e a Alemanha, que combinam tecnologias e políticas públicas para promover o reaproveitamento dos resíduos e, com isso, a quase inutilização de aterros. De acordo com o Vidoto, existem mais de 14 mil plantas de biogás por meio de biodigestão na Europa. Apenas na Alemanha, são oito mil.
"Está todo mundo olhando a nossa planta como uma quebra de paradigmas no tratamento de resíduos orgânicos no Brasil", disse Vidoto. De acordo com ele, até este ano só existiam projetos-pilotos que testavam a tecnologia, mas não uma usina com essa dimensão. Ele espera que "o pioneirismo quebre esse paradigma de só aterrar".
No Brasil, o biogás ainda tem uma participação pequena na matriz energética, por isso sua participação na oferta interna é contabilizada junto a outros itens, como o bagaço e a palha da cana, conformando a chamada biomassa. Segundo dados do Ministério de Minas e Energia, em 2016 a biomassa foi responsável por 8,8% da energia gerada no país.
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