Com informações da BBC
Embora pareça com gelo, o hidrato de metano é inflamável por conter grandes quantidades do gás em sua estrutura.[Imagem: USGS]
Mineração marinha
A China anunciou ter extraído do fundo do Mar da China Meridional uma quantidade considerável de hidrato de metano, também conhecido como gelo combustível, que é tido por muitos como o futuro do abastecimento de energia.
As autoridades do país asiático comemoraram o feito porque a tarefa é considerada altamente complexa, e já tinha sido alvo de tentativas pelo Japão e pelos Estados Unidos, sem muito sucesso.
Os hidratos de metano foram descobertos no norte da Rússia nos anos 1960, mas apenas neste século começou a pesquisa sobre como extrai-lo dos sedimentos marinhos.
O Japão foi pioneiro na exploração devido à sua carência de fontes de energia natural. Outros países líderes na prospecção de gelo combustível são Índia e Coreia do Sul, que tampouco têm reservas próprias de petróleo.
Mas o que é exatamente esse composto e por que ele é considerado como uma promissora fonte de energia no mundo?
Gelo combustível
O gelo combustível ou gelo inflamável é uma mistura gelada de água e gás.
"Parecem cristais de gelo, mas quando se olha mais de perto, a nível molecular, veem-se as moléculas de metano dentro das moléculas de água," explicou Praven Linga, professor da Universidade Nacional de Cingapura.
Conhecidos como hidratos de metano, esses cristais formam-se a temperaturas muito baixas, em condições de pressão elevada. São encontrados em sedimentos do fundo do mar e ou abaixo do pergelissolo, ou permafrost, a camada de solo congelada dos polos.
O gás encapsulado dentro do gelo torna os hidratos inflamáveis, mesmo a baixíssimas temperaturas. Essa combinação rendeu-lhe o apelido de "gelo de fogo".
Quando se reduz a pressão ou se eleva a temperatura, os hidratos se decompõem em água e metano. Um metro cúbico dessa substância libera cerca de 160 metros cúbicos de gás - ou seja, trata-se de um combustível de grande potencial energético.
O problema, no entanto, é que extrair esse gás é um processo que, por si só, consome muita energia.
[Imagem: BBC]
Alternativa energética
Especialistas em energia acreditam que os hidratos de metano têm o potencial de se tornar uma fonte de energia fundamental para suprir as necessidades energéticas no futuro.
Existem grandes depósitos nos oceanos, sobretudo nas extremidades dos continentes. Atualmente, vários países estão buscando maneiras de extraí-lo de forma segura e rentável.
A China descreveu a extração feita na semana passada como "um feito importante".
Praven Linga compartilha dessa visão: "Em comparação com os resultados que temos visto na pesquisa japonesa, os cientistas chineses conseguiram extrair uma quantidade muito maior de gás. É certamente um passo importante em tornar viável a extração de gás dos hidratos de metano."
Estima-se que sejam encontradas dez vezes mais gás nos hidratos de metano do que no xisto, do qual pode ser extraído gás natural e óleo e também tem servido como alternativa energética. "E essa é uma estimativa conservadora", ressalva Linga.
Blocos de hidratos de metano extraídos no Golfo do México pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos. [Imagem: USGS]
Extração controversa
Embora o êxito da China seja um avanço importante, esse é apenas um passo de um longo caminho para o aprimoramento da tecnologia de extração do gelo combustível.
"É a primeira vez que os índices de produção são realmente promissores," disse Linga. "Mas acreditamos que só em 2025, na melhor das hipóteses, poderemos considerar realistas as opções comerciais."
Segundo a imprensa chinesa, na região de Shenhu foi extraída uma média de 16 mil metros cúbicos de gás de elevada pureza por dia - uma área cuja soberania tem sido disputada entre o país, o Vietnã e as Filipinas.
Linga ainda ressalta que as empresas que potencialmente operem na exploração do material devem seguir condutas bastante rígidas de controle para se evitar danos ambientais.
O perigo é que o metano escape, e isso teria consequências graves para o aquecimento global, já que se trata de um gás com um potencial de impacto sobre as mudanças climáticas muito maior do que o dióxido de carbono.
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