Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, a aquaponia tem enorme potencial para combater a fome no mundo
A aquaponia é uma tecnologia que alia elementos da aquicultura, que é o cultivo de organismos aquáticos, e da hidroponia, o cultivo de hortaliças sem o uso da terra. Peixes e hortaliças são cultivados de forma integrada. “Projetos de aquaponia oferecem às pessoas uma possibilidade diferente de se relacionar com a comida e com elementos da natureza”, explica Maíra Magdaleno, engenheira de aquicultura e mestre em sistemas de aquaponia, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Os sistemas usam técnicas ecológicas que, ao mesmo tempo em que possibilitam a produção de peixes, hortaliças e frutas – ricos em nutrientes, saudáveis e sem agrotóxicos – faz a reutilização dos resíduos dos peixes, transformando-os em nutrientes para o crescimentos dos vegetais.
A aquaponia usa a recirculação de água, ou seja, a água que entra no tanque dos peixes é encaminhada para as unidades de cultivo dos vegetais, depois retorna novamente para os peixes, reiniciando o ciclo.
A interação de protocooperativismo que ocorre entre os diferentes elementos contidos no sistema (peixes, bactérias nitrificadoras e plantas) faz com que haja o máximo aproveitamento de recursos naturais, com mínimo impacto ao meio ambiente. “Não há liberação de efluentes para o fora do sistema. Na aquaponia nada se perde, tudo se transforma, lembrando-nos de Lavoisier”, destaca Maíra.
Solução para combater a fome
Sistemas aquapônicos, de acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), são considerados uma atividade com enorme potencial para contribuir com o combate à fome em todo o mundo. Aproximadamente 70% de toda a água disponível no mundo é utilizada para irrigação, sendo que no Brasil esse índice chega a 72% (EBC, 2016).
“Acredito que a aquaponia possa ser inserida nas periferias, em grandes centros urbanos ou em áreas rurais e mais isoladas. Os sistemas podem produzir alimentos, garantindo a autonomia e construção de hábitos alimentares mais saudáveis e seguros dentro da comunidade”, afirma Maíra.
Sustentabilidade
Ao aprender como funciona o sistema de aquaponia e entender a relação entre todos os seus elementos, a comunidade estabelece uma relação de troca positiva entre vizinhos, sendo uma alternativa potencialmente agregadora para um desenvolvimento fundamentado em práticas mais sustentáveis, pois alia responsabilidade ambiental e social. “A relação entre as pessoas, os peixes, as plantas e a água é de coexistência”, garante a engenheira.
Sistemas de aquaponia podem ser desenvolvidos para empresas, comunidades ou até mesmo residências. Em escolas, podem ser usados para demonstrar na prática conceitos de biologia, matemática e outras disciplinas, com os alunos interagindo com os tanques de peixes e o cultivo de hortaliças sem o uso de agrotóxicos.
“Acredito que estudar e planejar conjuntamente ações que vislumbrem ampliar perspectivas sociais e ambientais mais justas, junto às políticas públicas, com apoio e investimentos financeiros, é uma pequena contribuição para uma transformação social necessária e urgente”, finaliza Maíra.
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