O intuito é aproveitar o enorme potencial brasileiro para produção de energia renovável individual.
O retorno do investimento leva, em média, seis anos.
As duas primeiras instalações fotovoltaicas do Morro da Babilônia, no Leme, zona sul do Rio de Janeiro, serão inauguradas na noite deste sábado. Os painéis são resultado de uma ação da associação sem fins lucrativos RevoluSolar, criada em outubro para promover a transição de energia renovável para a favela.
O presidente da RevoluSolar, Pol Dhuyvetter, que também é dono de uma pousada e de um restaurante, uma das duas primeiras casas a receber os painéis, é belga e está há sete anos no Brasil. Integrante da cooperativa europeia Ecopower há 20 anos, ele se diz surpreso pelo Brasil ainda investir tão pouco em energia solar, mesmo com a radiação tão alta.
“Quando vim para o Brasil, vi tanto sol e tantos recursos naturais e procurei cooperativas de produção de energia renovável e não achei. Na Bélgica, somos mais de 50 mil famílias e [o sistema de cooperativas] funciona. Agora, começamos aqui no Brasil a primeira cooperativa de energia renovável. Na Europa, há uma federação, estou em contato com o presidente e ele está dando conselhos para nós. Um país como o Brasil, como o Rio, com uma taxa de sol das mais altas do mundo, porque tem tão pouco painel solar? Na Bélgica, onde tem tão pouco sol, tem tanto painel solar. Aqui, é bem interessante a economia do painel solar”.
Números
A geração de energia elétrica por células fotovoltaicas não entra nos boletins do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). De acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Brasil possui 33 empreendimentos de geração de energia solar em operação, responsáveis por 21.336 kW, o que corresponde a 0,02% do total do país.
De acordo com Dhuyvetter, o objetivo para 2016 é instalar painéis em 1% das residências da Babilônia, que tem pouco mais de mil casas. Por enquanto, além das duas já instaladas, há cinco interessados na fila. Para ele, o investimento pode ser grande no início, mas compensa muito a longo prazo com o retorno do valor pago em no máximo seis anos.
“A primeira coisa que fazemos é ver a conta de luz para dimensionar a instalação. Na nossa moradia que tem um bar, um restaurante e uma pousada, precisamos de 24 painéis. Nosso consumo no último mês foi quase R$ 1 mil. Nós colocamos 12 painéis, que custaram R$ 21 mil, e vão suprir a metade do consumo, mais ou menos 150 kW por mês. A estimativa é que, no máximo em seis anos, temos o retorno do investimento, talvez antes. E depois temos luz de graça por 19 anos, dentro da estimativa de duração de 25 anos de uma instalação solar. Então, a estimativa de lucro é de R$ 129 mil em 25 anos. Pode ser mais se o preço da luz subir”.
O financiamento para a instalação dos painéis veio por meio da Agência Estadual de Fomento (AgeRio), que oferece até R$ 15 mil em microcrédito para os moradores e empreendedores das comunidades com juros de 0,25% por mês. Para o presidente da Associação de Moradores do Morro da Babilônia, André Luiz Abreu de Souza, o problema é que o prazo para quitar o empréstimo é de dois anos, muito curto para as condições do morador da favela.
“Nós vamos correr politicamente para que se aumente esse espaço de tempo para pagar o microcrédito em quatro ou cinco anos, aí ficaria mais fácil para o morador. Mas o importante é mostrar que é um investimento que vai ter um retorno, você não vai só consumir, mas vai passar a produzir. É nisso que nós estamos acreditando, é algo muito novo, principalmente para uma favela, e a Babilônia está sendo a pioneira e nós estamos muito felizes com isso”.
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