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domingo, 16 de agosto de 2015

Nações precisam conter exploração combustíveis fósseis

Estados Unidos, Canadá, Rússia e Arábia Saudita devem reter parte de suas reservas, recomenda estudo

Por David Biello 



Advertência para não queimar: Uma nova análise enfatiza 
que reservas de combustíveis fósseis como as areias betuminosas 
do Canadá não podem ser utilizadas se o mundo de fato estiver 
seriamente determinado a limitar o aquecimento global a 2ºC ou menos.


Estados Unidos, Canadá, Rússia e Arábia Saudita não podem mais queimar grande parte do carvão, petróleo e gás natural de jazidas localizadas em seus territórios nacionais se o mundo de fato quiser conter o aquecimento global.

Essa é a conclusão de um novo estudo destinado a determinar o que será necessário para impedir que a temperatura média global aumente mais de 2ºC neste século, uma meta estipulada durante as atuais negociações no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês).

Em uma coletiva de imprensa, o principal autor do artigo, Christophe McGlade, um pesquisador associado no Instituto para Recursos Sustentáveis (ISR, em inglês) da University College London, foi categórico ao afirmar: “Se quisermos alcançar o limite de dois graus do modo mais eficiente possível em termos de custo-benefício, mais de 80% do carvão, 50% do gás e 30% do petróleo existentes atualmente têm de ser classificados como ‘inqueimáveis’”.

O estudo foi publicado em 8 de janeiro na revista Nature. (A Scientific American faz parte do Nature Publishing Group.)

Essas restrições globais se aplicam mesmo se tecnologias capazes de capturar e eliminar (armazenar) dióxido de carbono (CO2) se tornarem amplamente difundidas ao longo da próxima década.

“O rápido desenvolvimento da captura e do armazenamento de carbono só permite que se produza ligeiramente mais”, argumentam os autores.

De acordo com a análise, as vastas jazidas de carvão encontradas na China, Rússia e nos Estados Unidos, devem permanecer no solo, assim como a maior parte do gás natural existente no Oriente Médio.

Ainda assim, em outras partes do mundo, como nos Estados Unidos, o gás natural poderia desempenhar um papel importante na redução da poluição de CO2, mas só se ele for utilizado para substituir o carvão, mais sujo ainda, e não impedir que sejam construídas mais usinas de energia nuclear ou desenvolvidas outras fontes renováveis.

O projeto de pesquisa partiu do cálculo do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, segundo o qual, para haver uma chance de pelo menos 40% de manter o aquecimento global abaixo de 2ºC, somente algo entre 900 e 1.200 gigatoneladas [1 Gt é igual a 1 bilhão de toneladas] de dióxido de carbono podem ser lançadas na atmosfera.

Empregando esses valores estimados, McGlade e o economista Paul Ekins do ISR investigaram, por meio de modelagens computadorizadas, “quais combustíveis fósseis não deveriam ser aproveitados e onde eles estão localizados”, como explicou Ekins.

Como outros pesquisadores antes deles, os dois descobriram rapidamente que cerca de 60% das reservas de combustíveis fósseis conhecidas e previstas não podem ser utilizados.

Se o mundo queimasse todo o carvão, petróleo e gás natural existentes em jazidas já identificadas, e de extração viável e rentável, aproximadamente três mil gigatoneladas de CO2 entrariam na atmosfera — isso é quase três vezes mais que o orçamento de CO2 sugerido pelo IPCC.

O novo estudo também deu um passo além e verificou quais países e territórios possuem esses recursos e reservas considerados “inqueimáveis”.

Para isso, os dois pesquisadores utilizaram estimativas do Serviço Geológico Britânico, do Serviço Geológico dos Estados Unidos e outras fontes de dados.

Eles descobriram, por exemplo, que para cumprir a meta de 2ºC, 260 bilhões de barris de petróleo do Oriente Médio como um todo não devem ser queimados. Só isso equivale aproximadamente às atuais reservas estimadas da Arábia Saudita.

Além disso, nenhuma jazida de petróleo ou gás a ser encontrada no Ártico deve ser explorada, recomendou McGlade.

O Canadá é dono da maior parcela isolada de petróleo “inqueimável” do mundo, porque a maior parte dessas reservas existe em forma de xisto betuminoso, ou areias betuminosas, uma mistura de betume e areia que implica queimar gás natural para transformá-la em produtos petrolíferos utilizáveis.

De acordo com McGlade, “80% de suas reservas, de 50 bilhões de barris, têm de permanecer no solo”.

Designar quaisquer combustíveis fósseis como “inqueimáveis” significaria uma mudança sísmica em política global e empresarial.

“Em 2013, companhias de petróleo gastaram US$ 670 bilhões na prospecção de novos recursos de petróleo e gás”, observou Ekins e acrescentou: “Pode-se perguntar por que estão fazendo isso quando há mais no solo do que podemos nos dar ao luxo de queimar?”

Atualmente, o mundo caminha a um ritmo que significa um aquecimento global de até 5ºC, ou o equivalente à queima de aproximadamente 300 bilhões de toneladas de carvão e 220 bilhões de barris de petróleo adicionais, incluindo algumas das reservas que possivelmente serão descobertas no Ártico devido ao seu rápido degelo.

Para evitar queimar todo esse combustível fóssil, o modelo computadorizado do Instituto para Recursos Sustentáveis sugere a construção de mais usinas nucleares, a instalação de painéis solares em telhados para obtenção de energia, e a queima de biocombustíveis, além da simultânea captura e armazenamento do carbono resultante para ajudar a reduzir as concentrações atmosféricas de CO2.

Esse acúmulo já atingiu a marca de 400 partes por milhão (ppm) — o nível mais elevado em pelo menos 800 mil anos.

“Mudar para veículos mais eficientes — é isso o que o modelo faria”, informa McGlade.

Embora a análise seja apenas um modelo computadorizado, ela certamente realça as consequências do combate às alterações climáticas para proprietários de combustíveis fósseis, independente de serem corporações ou países.

Atualmente, combustíveis fósseis, especialmente carvão, são queimados ao redor do mundo a uma taxa crescente para impulsionar economias em desenvolvimento e permitir o acesso a luz, refrigeração, computação e outros serviços e conveniências modernos.

Esse aumento explosivo de consumo é um custo aparentemente inevitável para melhorar a qualidade de vida de bilhões de pessoas ainda atoladas em pobreza energética, mas ele também é cada vez mais inconsistente com os esforços para combater as alterações climáticas que prejudicarão muito mais os mais pobres do planeta.

Portanto, a questão que envolve trilhões e trilhões de dólares é: quais países e empresas desistirão da queima de combustíveis fósseis para que outros possam queimar a sua parte?

“Formuladores de políticas na China, Europa e nos Estados Unidos estão afirmando que apóiam esse limite de segurança de 2ºC”, observou Ekins e concluiu: “Isso tem certas implicações”.

Publicado em Scientific American

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