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sábado, 25 de julho de 2015

Arquitetos querem construir ambientes mais saudáveis

Extraído da Scientific American - Brasil


A meta é criar espaços melhores e mais salutares com “escadarias irresistíveis” e layouts abertos

                                                                   


                 



 
     Por Amy Nordrum


Americanos passam, em média, cerca de 90% de seu tempo dentro de casa e no trabalho. Agora, esse fato um tanto desalentador inspirou o principal grupo de arquitetos do país a fazer algo a respeito.

Os profissionais que projetam nossos lugares de trabalho e habitações estão começando a perceber que todas essas horas de confinamento são uma grande oportunidade para terem um impacto significativo na saúde pública.

Em 15 de dezembro, o Instituto Americano de Arquitetos (AIA, em inglês) anunciou seu mais recente esforço ao longo dessas linhas: uma parceria de três anos entre 11 escolas de arquitetura, cujos programas de pesquisa se aprofundarão na exploração da noção de que design de construção, planejamento urbano e saúde devem caminhar juntos.

As instituições participantes examinarão temas que vão desde o microbioma de edifícios até o chamado “tele-health”, ou “tele-saúde” [uso de tecnologias de informação eletrônica e telecomunicações para apoiar cuidados de saúde clínicos e não clínicos] para comunidades rurais para reduzir estresse através de design.

“Estamos todos familiarizados com o adágio ‘mente sã em corpo são’”, observa Sulan Kolatan, professora de arquitetura no Pratt Institute,em Nova York. “Mas precisamos acrescentar uma frase que diz: ‘cidade saudável, mente saudável e corpo saudável’, porque estamos compreendendo que essas coisas estão integralmente conectadas”, acrescenta.

Em breve, projetar tendo em vista a saúde será uma responsabilidade tão fundamental na mente de estudantes de arquitetura como projetar para economizar energia, prevê Daniel Friedman, presidente do Grupo de Liderança de Design e Saúde do AIA.

Pensadores de renome em arquitetura remontando até o arquiteto romano Vitrúvio, que viveu durante o século1 a.C., consideraram como o ambiente que nos cerca pode influenciar a saúde e o bem-estar.

O mais recente ressurgimento do conceito ocorreu em setembro de 2003 quando o American Journal of Public Health publicou uma edição dedicada à saúde pública e ao ambiente construído. A partir daí, o tema virou uma bola de neve, conta Friedman.

Ultimamente sensores e software avançaram esses esforços ao permitirem que arquitetos monitorem e meçam melhor os efeitos fisiológico, psicológico e social do aproveitamento de uma construção sobre seus ocupantes. “Não se trata apenas de ‘caminhe mais, pese menos’”, salienta Friedman. “Isso é sobre os impactos de saúde do design e da construção, em uma escala que se estende do recinto/quarto a uma região, com muito mais atenção a evidências, dados de saúde e critérios para bem-estar”, esclarece.

A iniciativa do AIA inclui as universidades Columbia, Texas A&M, Texas Tech e Drexel, além das universidades de Illinois em Urbana-Champaign, Kansas, Flórida, Oregon, Miami, e Arizona, e da NewSchool of Architecture & Design,em San Diego, na Califórnia.

Atualmente, profissionais de vários campos consideram edifícios uma ferramenta fundamental para combater o isolamento social, a obesidade epidêmica e a depressão.

O U.S. Centers for Disease Control (CDC) publicou recomendações para criar escolas de ensino fundamental que inspirem crianças a se alimentar de modo mais saudável; e cidades, como Nova York, estão adotando as chamadas Active Design Guidelines, diretrizes destinadas a fomentar práticas de construção que aumentem a atividade física.

Recentemente, Robert Ivy, CEO do AIA, escreveu uma coluna destacando alguns exemplos de pesquisas nessa direção e a organização publicou um infográfico sobre seis facetas arquitetônicas consideradas intersecções positivas de espaços construídos com saúde pública—segurança, conectividade social, qualidade ambiental, ambientes sensoriais, atividade física e acesso a sistemas naturais.

Abaixo, alguns exemplos de pesquisas e iniciativas destacadas:

1. Projetar escadarias que as pessoas queiram usar

No Bullitt Center (BC), em Seattle, no estado de Washington, os ocupantes preferem a “irresistível escada” ao elevador em 75% das ocasiões em que precisam transitar no edifício, em comparação aos entre 17% e 23% de sobes e desces por escadas em um típico prédio de escritórios, de acordo com resultados publicados este ano pelo BC e elogiado por Friedman.

[O edifício, inaugurado oficialmente em 2013, foi projetado para ser o prédio comercial mais “verde” do mundo.

Enquanto sobem a escadaria Bullitt, usuários desfrutam vistas panorâmicas do estreito Puget Sound e do centro de Seattle, ao passo que o elevador está escondido num canto escuro do prédio e requer um cartão-chave eletrônico para acessá-lo.

“Qualquer engenheiro é capaz de projetar uma escada que atenda às normas, mas arquitetos têm o design e o treinamento para criar uma escadaria que literalmente pede para ser usada”, observa Friedman.

Mas e quanto a lugares com escadas antigas, do passado?

A prefeitura de Nova York distribuiu 30 mil sinais de néon verdes com um apelo para as pessoas usarem as escadas em edifícios e instalações públicos.

Outros exemplos de projetos já construídos que incentivam atividade física foram destacados em uma exposição de 2013, chamada FitNation, sob curadoria do AIA.

2. Programe o tempo de iluminação de acordo com ritmos circadianos

Até 2025 espera-se um aumento de 40% no número de pessoas com 65 anos ou mais, portadores da doença de Alzheimer, uma forma de demência.

Diante disso, Kyle Konis, professor de arquitetura na University of Southern California propõe uma forma de amenizar sintomas como distúrbios do sono com melhorias na iluminação interna.

Olhos são sensíveis a luminosidade e temperatura de cor da luz (uma propriedade que descreve sua tonalidade, que varia do azul aos extremos vermelhos do espectro). Esses fatores influenciam nossos ritmos circadianos e o ciclo vigília-sono.

Em um relatório elaborado para uma conferência de design e saúde organizada pelo AIA, Konis citou a descoberta de que expor pacientes de Alzheimer a uma hora de luz brilhante (geralmente usando uma caixa de luz artificial) na parte da manhã pode ajudar as pessoas com os sintomas mais graves a dormir melhor.

No entanto, a maioria das instalações para seniores conta com uma fraca iluminação fluorescente. Além disso, cuidadores enfrentam resistência para convencer pacientes e residentes a se sentarem por uma hora diante de uma caixa de luz artificial todos os dias.

Konis quer conduzir um estudo piloto de três meses em quatro instalações de tratamento para idosos com demência, perto de Los Angeles. Sua intenção é verificar se levar um grupo de pacientes para uma sala banhada em luz solar por duas horas diariamente reduzirá sintomas e melhorará funções cognitivas em comparação com um grupo de controle que passará o mesmo tempo sob luzes fluorescentes.

3. Criar oportunidades para interação social

Os arquitetos da SGPA Architecture and Planning,em São Francisco, encarregados da concepção do lar para idosos Lincoln Glen Manor, uma comunidade de vida assistidaem San Jose, na Califórnia, decidiram se orientar por pesquisas anteriores que mostraram que uma instalação bem concebida pode aumentar a frequência de visitas de familiares e, com isso, melhorar o bem-estar dos residentes.

Para tornar o ambiente agradável e mais acolhedor, e promover interação social, os arquitetos mexeram nas áreas da capela e do refeitório do edifício central para criar um layout mais amplo e aberto.

Essa mudança permitiu que residentes se enxergassem melhor mutuamente e estimulou observadores a participar de atividades. No que os arquitetos estão considerando uma medida inicial de sucesso, 90 idosos participaram este ano do jantar de Ação de Graças, em comparação com apenas 25 no ano anterior, de acordo com um relatório elaborado pela empresa.

4. Pense em edifícios como uma ferramenta educacional, não apenas um cenário de fundo

Uma nova escola rural para alunos “K-5”, termo americano que define crianças do jardim de infância à 5ª série do ensino fundamental, foi inaugurada no início do ano letivo de 2012, em Buckingham County, na Virgínia.

A escola foi projetada pela firma VMDO Architects, especializada em escolas, com a ajuda de parceiros acadêmicos para incentivar uma alimentação saudável e mais atividades físicas.

A empresa instalou bebedouros nas salas de aula, sinalização nutricional adequada às idades, escadarias amplas e um “laboratório de alimentos”, onde alunos podem aprender a preparar refeições leves.

Os arquitetos encarregados do projeto apresentaram resultados preliminares de um estudo envolvendo os 970 alunos que frequentavam a nova escola na conferência de cúpula de primavera do AIA.

Seus resultados, que serão divulgados em breve numa publicação revisada por pares, sugerem que as características da instituição ajudaram as crianças a participar e desfrutar de mais atividades físicas, criando simultaneamente oportunidades para a equipe de funcionários organizar programas que abordassem alimentação saudável e estilos de vida.

5. Continuar projetando bairros transitáveis

A maioria dos americanos (52%) não pratica os recomendados 30 minutos de atividade física moderada por dia em conjunto com exercícios de fortalecimento muscular.

Pesquisadores do Texas A&M Center for Health Systems and Design monitoraram 229 moradores que se mudaram para uma comunidade “transitável” chamada Mueller, em Austin, no Texas.

Comunidades desse tipo priorizam o tráfego de pedestres em vez da circulação de veículos como principal forma de transporte cotidiano ao aglutinarem a localização de apartamentos, mercados, restaurantes e lojas comerciais

A análise da equipe revelou que, depois de se mudarem para Mueller, a porcentagem de moradores que estava praticando a recomendada atividade física saltou de 34% para 49% — e o tempo que eles passavam caminhando e andando de bicicleta aumentou, respectivamente, em 40 minutos e 13 minutos por semana.

Em um estudo separado que se estendeu por seis anos e analisou atividades físicas de moradores de três bairros de baixa renda em Detroit, Michigan, publicado este ano, pesquisadores constataram uma correlação positiva entre exercícios e a conectividade geral dos bairros, medida pela facilidade de circulação/movimentação e a eficiência do layout de suas ruas.


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