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terça-feira, 28 de julho de 2015

Novas imagens de Plutão e Caronte desconcertam cientistas


Extraído da Scientific American - Brasil


Ausência de crateras de impacto sugere que o planeta anão pode ser geologicamente ativo
                                                                                   


David Rothery e The Conversation UK


Após uma viagem de quase uma década através do nosso Sistema Solar, a sonda espacial americana New Horizons finalmente permitiu que acrescentássemos Plutão e sua principal lua, Caronte, à lista de grandes corpos gelados cujas paisagens pudemos observar.

A longa espera valeu à pena.

As primeiras imagens detalhadas são surpreendentes e mostram uma notável ausência de crateras de impacto tanto em Plutão como em Caronte.

A sonda da Nasa passou sobre Plutão em 14 de julho, a uma distância de 14 mil km, e, após uma ansiosa espera de 12 horas para que desse um sinal de vida, começou a enviar para a Terra seu tesouro de dados, que inclui imagens de altíssima precisão, que revelam detalhes de apenas 100 metros de diâmetro.

A imagem mais detalhada de parte de Plutão (foto de abertura) é verdadeiramente impressionante.

Nem uma única cratera de impacto é visível nessa região, portanto, a superfície deve ser muito jovem, remodelada por algum tipo de atividade geológica, como falhas [sísmicas] ou vulcanismo gelado.

Ainda é um tanto prematuro para especular, mas talvez Plutão só tenha “capturado” Caronte há algumas centenas de milhões de anos (em vez de bilhões), e estamos vendo o efeito da chamada aceleração de maré, as interações gravitacionais muito fortes entre um satélite natural e o planeta mais próximo que teriam se seguido à atração inicial.

Na realidade, Plutão poderia até ser geologicamente ativo atualmente.

Vi essa imagem chegar através de uma coletiva de imprensa da Nasa com um grupo de colegas, e não só ficamos surpresos, mas também perplexos.

Plutão, que tem um diâmetro de 2.370 km, compartilha seu espaço orbital com muitos corpos de tamanhos comparáveis e cruza a órbita do planeta gigante Netuno, razão pela qual não se qualifica como um planeta.

Ainda assim ele é um mundo fascinante, assim como Caronte, com seus 1.208 km de diâmetro.

Os dois são corpos cujos interiores rochosos estão profundamente sepultados por vários tipos de gelo.

Provavelmente existe gelo de água nas profundezas de Plutão, mas o gelo superficial é uma mistura de metano, etano, monóxido de carbono e nitrogênio congelados.

Caronte, com sua gravidade mais fraca, perdeu essas substâncias, que podem se transformar em vapor e escapar mais facilmente, apresenta predominantemente gelo de água, contaminado por amônia.

Tudo isso já sabíamos. Mas a New Horizons coletou dados que nos mostrarão como esses diferentes gelos estão concentrados em cada uma das superfícies, e talvez também tenha detectado vestígios de outros elementos constituintes.

As imagens já estão suscitando novas perguntas.

Plutão é notável por suas áreas de material brilhante e escuro que se estende ao longo de sua linha equatorial.

O que são essas manchas?

A brilhante área em forma de coração seria algum tipo de geada de nitrogênio ou depósito de neve? E o material escuro, será carbono, ou algum tipo de betume?

Caronte, por sua vez, única entre os mundos conhecidos, tem uma escura calota polar. Isso é metano antigo, danificado por radiação, enquanto a região equatorial mais acinzentada é gelo de água mais puro, ou limpo?

O fato de Plutão ter um matiz avermelhado parece ter sido surpreendente para alguns, mas na realidade isso já era bem conhecido há décadas.

Os cientistas estão aguardando ansiosamente a chegada de mais dados da memória agora quase cheia que a New Horizons tem a bordo e que deverão levar um total de 16 meses para serem transmitidos para a Terra.

Essa longa demora ocorre porque a uma distância de mais de 4,6 bilhões de quilômetros da Terra o sinal é tão fraco que tem de ser transmitido à taxa extremamente lenta de cerca de 1 kilobyte (KB) por segundo (você pode estar lendo essa matéria via wi-fi, uma rede sem fio, que opera a dezenas ou centenas de megabytes por segundo).

Embora tenhamos de esperar algum tempo para vermos a melhor das imagens, o que já vimos até agora é suficiente para intrigar imensamente cientistas planetários como eu.

 
David Rothery, da Universidade Aberta (Reino Unido), é autor de Planets: A Very Short Introduction (Oxford University Press, 2010) e Moons: A Very Short Introduction (Oxford University Press, em impressão). Ele recebe financiamento da Agência Espacial do Reino Unido e do Conselho de Instalações de Ciência & Tecnologia para trabalhos relacionados a Mercúrio e à sonda BepiColombo da Agência Espacial Europeia, que orbita o planeta.

A versão original deste artigo foi publicada originalmente em The Conversation.


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