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quinta-feira, 23 de julho de 2015

Medicina planetária para combater aquecimento global

Pesquisadores querem criação de novo campo científico para lidar com impactos climáticos


SHUTTERSTOCK
Umair Irfan e ClimateWire

Os avanços da humanidade em saúde, longevidade e prosperidade estão em uma situação precária à medida que o meio ambiente sofre com o crescente aumento populacional e desenvolvimento econômico global.

Para prevenir futuras ameaças e lidar com os problemas médicos emergentes, uma comissão de pesquisa internacional exigiu, em 16 de julho, a criação de um novo campo de medicina: saúde planetária.

A comissão, formada pela Fundação Rockefeller e a publicação científica de medicina The Lancet, britânica, investigou as correlações entre os sistemas naturais da Terra e o bem-estar humano, e analisou como a mudança climática e o depauperamento de recursos são gatilhos de problemas como doenças infecciosas e desnutrição.

“O conceito de saúde planetária oferece um novo jeito de pensar sobre a saúde do nosso planeta e sua resiliência em face de pressões como alterações climáticas, urbanização e globalização, só para citar algumas”, explicou Helen Clark, administradora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em declaração por vídeo. “Esse relatório é um guia muito importante para como o mundo poderia mudar de rumo”.

A expectativa de vida humana, por exemplo, saltou de 47 anos na década de 50 para 69 anos na de 2000.

Paralelamente, as emissões de dióxido de carbono (CO2) dispararam, florestas encolheram e aquíferos secaram.

Como medidas convencionais de saúde pública negligenciam esses dados conflitantes, torna-se necessária uma abordagem de saúde planetária para garantir que intervenções, como drenar pântanos para controlar a proliferação de mosquitos transmissores de doenças, não conduzam a situações de escassez de água, que poderiam ceifar vidas.

O relatório da comissão reitera os resultados de outro artigo publicado em The Lancet há algumas semanas: a saúde humana progrediu, mas o planeta degradou tanto que ameaça minar o sucesso do primeiro.

“Consequências não intencionais” de desenvolvimento

“Nosso progresso econômico e de desenvolvimento ao longo dos últimos 100 anos criou consequências indesejadas para o nosso mundo natural; maior poluição do ar e da água, um aumento de eventos climáticos extremos e uma crise de biodiversidade da qual o nosso planeta depende”, advertiu Judith Rodin, presidente da Fundação Rockefeller. “Nosso planeta e sua capacidade de sustentar vida humana estão em perigo”.

Andrew Haines, professor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, que liderou a comissão, ecoou essa opinião.

“Talvez tenhamos hipotecado o futuro ao atingirmos nosso atual nível de saúde e desenvolvimento”, sugeriu. “[Medidas de saúde convencionais] presumem que qualquer benefício para a saúde é bom e pode ser sustentado indefinidamente, mas nosso argumento é que isso talvez não seja possível”.

No entanto, é um desafio ligar os pontos e prever as consequências de coisas como aumentar as emissões de gases de efeito estufa resultantes do uso de aparelhos de ar condicionado para reduzir o número de mortes decorrentes de ondas extremas de calor, que, por sua vez, aumentariam o número e a intensidade desses episódios de temperaturas muito elevadas.

Steve Osofsky, diretor-executivo para saúde de vida selvagem e políticas de saúde na organização não governamental Wildlife Conservation Society, comparou o desenvolvimento da humanidade a um avião de carreira.

“Esse avião está subindo cada vez mais, a saúde global e as doenças estão melhorando, mas nós estamos estourando os rebites nesse aparelho, um de cada vez”, observou. “Não sabemos quantos deles podemos perder antes que o avião caia”.

Para ilustrar algumas dessas associações de causa e efeito a The Lancet publicou, também no dia 16, dois novos estudos sobre como as mudanças ambientais afetam a saúde humana.

O primeiro analisou animais polinizadores, como abelhas melíferas, e seu impacto na agricultura. Perturbações e declínios nas populações de polinizadores animais poderiam elevar a mortalidade global em 2,7%, resultando em mais 1,4 milhão de mortes por ano.

Um empurrão para o Plano de Energia Limpa

O segundo estudo estabeleceu um vínculo direto entre o aumento das concentrações de CO2 e a desnutrição por deficiência de zinco.

O zinco é necessário para o funcionamento adequado do sistema imune humano e, até 2050, os crescentes níveis de dióxido de carbono poderiam colocar outros 132 milhões a 180 milhões de pessoas em risco de deficiência de zinco, além de agravar os perigos para as que já têm uma insuficiência desse mineral (verClimateWire, 16 de julho, em inglês).

Para resolver esses desafios, a comissão Lancet-Rockefeller apresentou várias propostas, inclusive diversificar dietas, tornar infraestruturas hospitalares e de saúde mais resilientes a choques ambientais como tempestades, e redirecionar subsídios de combustíveis fósseis para cuidados de saúde.

Na mesma ocasião, a Fundação Rockefeller também prometeu uma verba de US$ 15 milhões para a saúde planetária. Essa quantia se soma aos US$ 200 milhões gastos ao longo dos últimos cinco anos em outras iniciativas ambientais e de saúde pública.

O crescente impulso vinculando mudanças climáticas à saúde humana ocorre em um momento favorável para a administração Obama e suas ambições climáticas.

A meta do chamado Plano de Energia Limpa de regular as emissões de carbono de usinas elétricas existentes se baseia em uma disposição da Lei do Ar Limpo, que permite essas regulamentações para proteger a saúde pública.

Enquanto opositores da medida têm questionado quaisquer ligações entre os níveis de CO2 e o número de visitas a prontos-socorros, as evidências e acumulam e os defensores da saúde exigem uma ação (ver ClimateWire, 3 de junho, em inglês).

“Nós temos as soluções”, salientou Bráulio Ferreira de Souza Dias, secretário-executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica. “O problema é que normalmente esperamos até o último minuto para começar a usá-las”.


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