Metas assumidas no âmbito do tratado não são suficientes e precisarão ser alteradas em 2020.
As metas de cada país junto ao Acordo de Paris reduzirão em apenas um terço do necessário o volume de emissões de gases do efeito estufa. Com a implementação dos atuais compromissos nacionais, a temperatura da Terra provavelmente aumentará em pelo menos 3ºC até 2100 — bem acima do objetivo do Acordo, que visa manter o aquecimento global abaixo dos 2ºC até o fim do século. É o que revela uma nova pesquisa da ONU Meio Ambiente, divulgada na última terça-feira (31). Agência das Nações Unidas pediu revisão das metas.
O 8º Relatório sobre a Lacuna de Emissões aponta que as chamadas Contribuições Pretendidas Nacionalmente Determinadas (INDC) — metas assumidas pelos Estados-membros no âmbito do tratado — não são suficientes e precisarão ser alteradas em 2020, ano em que está prevista uma revisão dos compromissos.Mesmo que as atuais promessas sejam cumpridas, as emissões de gases do efeito estufa chegarão, em 2030, a um valor anual equivalente a algo em torno de 11 a 13,5 gigatoneladas de gás carbônico. O volume estará bem acima do nível exigido para alcançar a meta dos 2ºC da forma menos custosa. Uma gigatonelada equivale aproximadamente ao total de emissões do setor de transporte, incluindo o segmento de aviação, da União Europeia.
Segundo o levantamento, as emissões de gás carbônico permaneceram estáveis desde 2014 devido, em parte, ao avanço da energia renovável na China e na Índia. Os números levaram especialistas a crer que o volume de CO2 liberado na atmosfera havia atingido um teto. Todavia, de acordo com o relatório, outros gases do efeito estufa — como o metano — continuam se proliferando e picos de crescimento econômico poderiam provocar um recrudescimento das emissões de gás carbônico.Acesse
“Um ano depois que o Acordo de Paris entrou em vigor, ainda nos encontramos em uma situação na qual não estamos fazendo o suficiente para salvar centenas de milhões de pessoas de um futuro infeliz”, afirmou o diretor-executivo da ONU Meio Ambiente, Erik Solheim. “Isso é inaceitável.”
A agência das Nações Unidas também lembrou a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris — conter o aquecimento global até 1,5º C até 2100. Para esse objetivo, seria necessária uma redução de 16 a 19 gigatoneladas de CO2 até 2030.
Soluções
Apesar das projeções preocupantes, a pesquisa da ONU Meio Ambiente indica que soluções baratas já estão disponíveis para a comunidade internacional. Nos setores de agricultura, construção, energia, indústria, transporte e silvicultura, investimentos em tecnologia poderiam evitar a liberação do equivalente a 36 gigatoneladas de CO2 por ano até 2030. Os custos seriam pequenos — menos de 100 dólares por tonelada de CO2 não liberada.
O potencial de redução vem sobretudo de investimentos em energia solar e eólica e em equipamentos e veículos de passageiros com uso eficiente de energia, bem como de iniciativas de reflorestamento e de medidas para interromper o desflorestamento. Ações recomendadas para diminuir o impacto climático desses setores econômicos poderiam cortar em até 22% as gigatoneladas de CO2 calculadas para 2030.
Essas estratégias poderiam, por si só, recolocar o planeta numa rota mais viável e tranquila rumo à meta dos 2ºC. “Se investirmos nas tecnologias corretas, garantindo que o setor privado esteja envolvido, ainda podemos cumprir a promessa que fizemos às nossas crianças para proteger seu futuro. Mas temos que trabalhar nisso agora”, acrescentou Solheim.
Produção sustentável
O relatório da ONU Meio Ambiente também chama atenção para o papel que empresas e instâncias decisórias subnacionais, como os municípios, podem desempenhar para fechar a lacuna de emissões. Segundo o levantamento, as cem maiores empresas emissoras de capital aberto respondem por cerca de um quarto das emissões de gases do efeito estufa.
A pesquisa menciona ainda a Emenda de Kigali para o Protocolo de Montreal. O acréscimo ao texto original do tratado — que visa à proteção da camada de ozônio — prevê a eliminação do uso de hidrofluorocarbonos (HFC) em cadeias produtivas.
Essas substâncias são usadas primariamente na indústria de refrigeração e isolamento com espumas. Os compostos não destroem a camada de ozônio, mas agravam o efeito estufa. Caso seja adotada e implementada com sucesso, a Emenda não trará benefícios imediatos, mas poderá ter um impacto positivo para as metas a longo prazo do Acordo de Paris.
A situação é semelhante para os poluentes de vida curta. Até a metade do século, reduções no consumo de metano e carbono negro poderão evitar a elevação da temperatura a níveis perigosos até o final do século.
O levantamento das Nações Unidas também recomenda a descontinuação das atividades de usinas movidas a carvão, mas sem ignorar questões como emprego, interesses de investidores e a estabilidade dos sistemas de fornecimento de energia.
Atualmente, existem no mundo 6.683 usinas movidas a carvão. Juntas, elas geram 1.964 gigawatts. Se essas instalações operarem até o fim de sua vida útil e não forem adaptadas com mecanismos de captura e armazenamento de carbono, elas poderão emitir 190 gigatoneladas de CO2.
No início de 2017, novas usinas a carvão, com potência conjunta estimada em 273 gigawatts, estavam em construção e outras, com potência de 570 gigawatts, estavam em fase de pré-construção. Segundo as estimativas da ONU Meio Ambiente, as operações dessas instalações poderiam levar à liberação de cerca de 150 gigatoneladas de CO2. Dez países respondem por quase 85% de toda cadeia de produção do carvão — China, Índia, Turquia, Indonésia, Vietnã, Japão, Egito, Bangladesh, Paquistão e Coreia do Sul.
Acesse o Relatório nesse link: http://www.unenvironment.org/resources/emissions-gap-report
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